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Miss you babe

Fiquei muito deprimida com o natal este ano. Sempre gostei do natal, mesmo depois de crescer. Há uns anos começou a perder um bocado a piada, como é costume quando se é adulto e já não se liga às prendas. Depois em 2004 morreu o meu avô exactamente no dia 24 de Dezembro. Uns meses  depois perdi o meu primeiro filho e o Natal de 2005 foi algo que gostaria de ignorar completamente porque para além de ser o primeiro aniversário da morte do meu avô foi também um natal em que deveria ter o meu bebé e não tinha. O ano passado foi indiferente. Estava grávida e pensei ‘para o ano, com o bebé já devo achar mais piada’. Acho que por causa disso estava com muitas expectativas para este ano. Mas umas semanas antes comecei a acordar completamente deprimida e a pensar muito no Alex. Por mais que adore o Tiago não consigo deixar de sentir que uma parte de mim morreu e é irrecuperável e insubstituível. Quanto mais perto do natal mais pensava nisso e mais deprimida fui ficando.

Num sábado de manhã em que acordei particularmente mal fui-me sentar na sala a ver um episódio do ER que continha uma história muito semelhante ao que me aconteceu – o Carter e a sua namorada perdem o bebé aos 7 meses com um nó no cordão. Odeio coincidências. É claro que na série deixam ficar o bebé no quarto até a mãe ganhar coragem para lhe pegar e eu nem tive essa hipótese. Nunca cheguei a pegar no Alex e vou sentir essa falta para sempre. Não é que fizesse a mínima diferença mas por muito mórbido que isso seja até sinto que devia ter uma foto do meu primeiro filho. Aliás, continuo a ter emoldurada a última foto que eu e o Pedro tirámos quando estava grávida porque é a única foto de família com o Alex que alguma vez vou ter e recuso-me a negar a sua existência.

Por mais que os anos passem continuo a ter saudades do meu primeiro filho e continuo a chorar por ele. Há dias em que ainda tenho problemas em aceitar o que se passou e que adormeço ou acordo a reviver os dias 7 e 8 de Setembro de 2005 tentando alterar mentalmente aquilo que acho que devia ter feito ou dito como se isso mudasse alguma coisa. E acho que o Natal me custou particularmente este ano porque toda a gente quer posse do Tiago que passou a ser o centro das atenções em todos os eventos familiares (inclusive nos aniversários de outras pessoas, algo que me faz um bocado de impressão, para dizer a verdade), e para mim há sempre um lado triste em tudo isso que não consigo explicar inteiramente. É como se sentisse que para o resto da família o que importa é que já há um bebé e não interessa qual é o bebé, e eu sei que isso é completamente injusto e falso mas tenho sempre a sensação que há qualquer coisa de errado com a cena, com o facto de estar toda a gente tão feliz menos eu. Não consigo evitar.

Mas nada disto importa. O que me importa é saber que não posso falar com o Alex e dizer-lhe o quanto gosto dele e quanto queria que ele estivesse aqui agora. E dou por mim a falar sozinha e a chorar na cozinha enquanto preparo a sopa do Tiago para ele não perceber que estou triste e o quanto estou farta de manter uma fachada cada vez que está alguém presente, incluindo o Pedro. E o quanto me sinto derrotada. Estou farta de chorar e estou farta de me sentir perdida mas não sou capaz de fazer de conta que já passou. Não sei se alguma vez serei capaz.

E fiquei sem vontade de voltar a festejar o Natal. Parece-me errado ter de fingir que estou feliz.

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4 Comments

  1. Não tenho a presunção de saber o que estás a sentir. Não tenho conselhos. Só queria dizer que te li, que tens direito à tua dor imensa. As pessoas pensam que agora ficou tudo bem, se (vocês) não falam nisso é porque já está tudo resolvido, mas a tua dor, e a do Pedro está nas entre linhas dos vossos textos, porque não há substitutos e não se aceita o que aconteceu assim. Não se aceita nem se esquece.

    Admiro a tua sinceridade, de dizer não, não está tudo bem.
    Porque não está e não tens que fingir que está.

  2. não tens de fingir, muito pelo contrário, tens direito aos teus sentimentos.

    não consigo conceber a força que foi necessária para escrever esta entrada, que transborda com o teu amor pelo teu Alex…

  3. Luisa Caria says:

    Olá minha Querida!Nâo penses que és só tu a sentir isso,nem imaginas o que me custa ver na consulta os miudos que nasceram entre o8 e 11 de Setembro,não consigo deixar de pensar como seria agora e custa mesmo muito lembrar aqueles dias,o modo doloroso e estúpidamente infeliz como tudo se passou.Não falo do assunto por achar quejá bastam as tuas recordações,mas se calhar tem sido uma atitude errada:eu sei por mim que muitas vezes preciso mesmo de falar do que me preocupa.Penso que foi bom teres conseguido escrever o que sentes,essa sensação de perda provávelmente vai ficar para sempre ,mas a pouco e pouco as coisas boas vão predominar no teu pensamento e tens de confessar que o sorriso do Tiago faz pesar a balança para o lado positivo,não é?
    Isto de querermos parecer fortes nem sempre é bom,chorar um bocado ás vezes ajuda.Tens aqui um ombro à disposição Beijo grande Mamy

  4. Fazes bem em chorar e dizer que nem tudo está bem! Nenhum bebé se substitui por outro. Nunca!
    Mas eu acredito que o Alex te ouve se falares com ele… mas pronto se calhar isto também é só uma forma que se inventou para conseguirmos ultrapassar tais situações…
    mas prefiro pensar que sim… que ele te ouve 🙂
    Um beijo

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