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O Natal perdeu a piada

Quando era miúda gostava muito do Natal porque era uma noite passada em casa da minha avó Cândida, de quem eu sempre gostei muito, com jogos e prendras. Quando somos miúdos não podemos comprar o que queremos e como tal a ideia das prendas, de nos darem aquilo que desejamos num dia especial, é razão para entusiasmo. É claro que há anos em que temos mesmo aquele brinquedo com que andávamos a sonhar há meses e outros anos em que temos meias e cuecas, mas como nunca se sabe, a expectativa e antecipação sempre foi estimulante.

Com o passar dos anos a coisa perdeu um bocado o interesse. Passamos a comprar o que queremos (dentro das possibilidades) e torna-se mais dificil fazer uma lista de Natal. Há geralmente uns livros ou uns filmes que ainda não temos mas fora isso o que queremos para nós próprios são coisas que são dificeis de serem outras pessoas a comprar.

Resta então o outro lado: passamos a ser nós a escolher prendas para dar a outras pessoas. Nos primeiros anos isso até foi uma tarefa agradável mas ao fim de dez ou mais anos começa a ser complicado. Não se encontra nada de diferente nas lojas, é dificil comprar roupa para outras pessoas porque nunca sabemos o número ou se vão gostar e o Natal começa a ser uma chatice – não o dia em si mas o mês e meio que o antecede em que todos os fins de semana são passados em peregrinação ao centro comercial, entrando e saindo de lojas sem encontrar um pingo de inspiração.

Fazer compras de natal deixou de ser dar algo especial a alguém de quem gostamos para passar a ser ‘resolver problemas’. Quando se encontra finalmente algo que poderá ser considerado aceitável como prenda é um respirar de alivio – pronto, já resolvemos mais um problema. É triste porque acabamos por gastar montes de dinheiro em coisas que provavelmente as pessoas nem querem.

Estou desejosa de chegar à idade em que possa simplesmente começar a dar o envelopezinho  com dinheiro sem parecer que não estive para me chatear. Já agora que idade será aceitável hoje em dia? Tenho de esperar até ser avó?

O Natal em si, quando a questão das prendas já está arrumada, não é mau mas é bastante cansativo. Como festa religiosa a coisa não me diz nada e acabamos por celebrar esta data porque é o que faz toda a gente. É uma desculpa como outra qualquer para uma reunião familiar, quando nem nos aniversários tal coisa é possível. Como há duas familias temos dois natais – um no dia 24 e outro no dia 25. Até gosto de estar com a família, até porque há pessoas que só vejo mesmo nesta altura do ano, mas depois apetece-me dormir durante uma semana.

Quando chega o Ano Novo é que já não tenho paciencia. Quero lá saber que venha aí um ano novo que vai ser exactamente igual ou pior que o anterior. Vou ficando mais velha, mais cansada e com menos paciencia. Acho que por esta altura entro um bocado em overload e a minha forma favorita de celebrar a passagem de ano é ficar em casa a ver filmes e comer snacks, à boa maneira das Gilmore Girls.

Para piorar as coisas, a minha mãe anda a tentar convencer-nos a instituir ainda mais uma festa familiar, no ‘dia de reis’ porque sente-se lesada  – o Natal é em casa dos meus tios e em casa dos pais do Pedro e ela está a fazer beicinho porque não é a anfitriã de festa nenhuma. É claro que vamos sempre lá almoçar no ano novo ou à volta disso, mas aparentemente não chega.

Eu sei, eu é que sou anti-social e isso tudo. Nunca fui o tipo de pessoa de gostar de fazer jantares nem nada disso. Não tenho nada contra pessoas ou estar com pessoas mas acho que é uma coisa que deve ser doseada e o mês de Dezembro é um exagero.

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4 Comments

  1. Maria says:

    Olá!
    Por motivos diferentes também para mim o Natal perdeu o brilho, ou pelo menos algum dele. Não porque não tenha paciência para estar com pessoas, mas porque há pessoas com as quais já não vou voltar a estar e isso é muito complexo de resolver para mim.
    Quanto às prendas nos últimos tempos tenho adoptado a oferta de pequenos mimos, coisas que as pessoas até gostam, mas que por um motivo ou outro não têm o hábito de fazer/comprar. Exemplos: vales de ofertas de spas, especialidades gourmet, bons vinhos ou outras bebidas para quem sei ser apreciador, ou ainda uma smartbox. São coisas de consumo, ou seja, a pessoa não vai ficar com uma “recordação” nossa, mas no momento em consumir a prenda com certeza que se vai lembrar de nós com carinho, por ter efectivamente gostado.

  2. Tenta convence-la que os reis é mto em cima, e que é melhor ser na pascoa, ou assim! Eu resolvi juntar as duas famílias na noite de natal, e assim no dia de natal, fazemos uma coisa a dois… com filmes e snacks 😛
    A passagem do ano, se a passar a dormir é o ideal, não ligo nenhuma também!

  3. Pois é Maria, compreendo o que dizes. Não quis ir por aí mas não consigo deixar de me lembrar que o meu avô morreu precisamente no dia 24 de Dezembro de 2004 e isso também tornou o dia mais triste. E como perdi o Alex no ano seguinte, o Natal de 2005 foi mesmo passado em casa porque não estava capaz de fazer de conta que estava alegre numa casa cheia de crianças. Mas enfim. Não posso passar o resto da vida agarrada a isso. Tenho as minhas depressões mas estão cada vez menos ligadas às datas em si. Acontecem por outros motivos, em qualquer altura.

  4. Não podia concordar mais contigo.
    É tão penosa a ida às compras, as peregrinações aos centros comerciais cheios de gente e as sucessões de almoços e jantares que parecem não ter fim.
    O Natal é realmente das crianças.

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