Blog

[:pt]Choradeira infinita[:]

[:pt]Ultimamente tenho-me sentido triste. E quando digo triste quero dizer ter dias em que não consigo parar de chorar, nada faz sentido, sou uma falhada, não tenho futuro e visito sites que explicam em detalhe como cometer suicídio sem fazer asneira (só para o caso de vir a ser preciso). Não interessa se alguma dessas coisas é verdade ou não. Não interessa as razões. Só vejo o lado negro.

Passei anos a dizer que não tinha tendências depressivas porque as minhas fases de tristeza são geralmente passageiras e por uma razão clara. Nunca cheguei áquele ponto em que não consigo levantar-me da cama seja pelo que for. Pelo contrário, compro rigorosamente as minhas obrigacões e tarefas, independentemente do estado de espírito. Ansiedade tenho certamente mas depressão nem por isso. Sempre que ficava triste arranjava algo que me permitia dar a volta à questão, nem que fosse ficar furiosa comigo mesma por estar a ser tão parva.

Aquilo que tenho sentido ultimamente vai bastante além da tristeza normal e ocasional que todos temos e nunca tinha estado assim antes, nem percebo muito bem porque é que me deu para isto agora. Razões há muitas, mas para quem já perdeu um filho e não chegou a este ponto, porquê agora?

A maior parte o tempo tenho uma máscara impenetrável que me permite interagir com o mundo exterior e bloquear grande parte das minhas emoções, mas se fico sozinha é impossível continuar a fazer de conta e não sei como parar, como me sentir melhor. Tenho tendência para desatar a chorar sem provocação e grande dificuldade em evitá-lo nas situações mais inconvenientes, como em público ou a meio de uma aula. O isolamento, que nunca me fez impressão antes, passou a ser uma coisa verdadeiramente opressiva, mas ao mesmo tempo a última coisa que quero é ter de falar com alguém porque isso implica que lá vou ter que fazer de conta que está tudo bem. Sei, racionalmente, que a minha vida não é metade do drama por que muitos passam mas há alturas em que isso não faz a mais pequena diferença. Enfim, nada que se possa dizer quando nos cruzamos com alguém na rua que pergunta “então, tudo bem?”

Falei com o Pedro, que tentou ajudar, mas nestas coisas acho que pouco ajuda. Ele sabe bem como isso é e eu, que tenho o defeito de entrar sempre em modo de resolução de problemas, também já aprendi que tentar resolver os problemas dos outros é inútil. Podemos ouvir ou dar um abraço e pouco mais. A única coisa que me fez parar a choradeira foi um telefonema de uma amiga que me deu uma pequena tarefa para fazer. O facto de ser forçada a colocar de novo a máscara e de me sentir momentaneamente útil, de ter um objectivo a cumprir, apesar de ser por algo mínimo, ajudou a controlar a espiral descendente por alguns instantes.

Ao fim do dia, com uma dor de cabeça monumental, os olhos inchados e vontade de desistir de vez, dei a mim mesma permissão para tentar lutar contra esta tendência por mais uns dias antes de admitir derrota.[:]

Veja também...

1 Comment

  1. Não é que eu tenha uma grande experiência de vida mas acho que toda a gente a certo ponto se sente assim. Sei como é, e o mais estranho é pensar que nunca na vida imaginamos que um dia pudéssemos ser assim. Temos de mudar mesmo por nós e tentar ser mais racionais em vez de emocionais. Ser emocional estraga tudo. O meu lado racional diz-me que o suicídio não me parece uma decisão muito sensata (ainda que às vezes pareça bastante razoável), e o seu deve dizer o mesmo. Às vezes temos mesmo de deixar-nos de “tretas”. Amanhã se não for melhor será pelo menos diferente.

Leave a Reply to The Conscience Manifesto Cancel reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.