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Os podres do sistema de ensino

Desde o tempo do Sr. Crato que os programas do ensino básico ficaram completamente desajustados à idade e maturidade das crianças que têm de os aprender. Em vez de se focarem em ensinar a ler e escrever correctamente e cimentar o conhecimento das 4 operações matemáticas básicas, agora temos aberrações como pôr crianças do segundo ano, que ainda nem deram a divisão, a fazer operações com fracções.

A matéria em todas as disciplinas, mas principalmente na matemática, foram antecipadas vários anos sem razão que eu consiga ver. A matéria é demasiado extensa e os professores andam a correr para dar tudo, não tendo tempo de fazer exercícios de consolidação.

Espera-se que os alunos, depois de 8 horas na escola ainda vão para casa a seguir, estudar em detalhe aquilo que o professor deu a correr nas aulas. No sétimo ano os alunos têm para estudar 40 a 60 páginas para um único teste, e é esperado que façam também trabalhos de casa para outras disciplinas no mesmo dia. É absurdo e só traz frustração, sentimentos de inadequação e até mesmo ódio pela aprendizagem no geral. Em casa há conflitos constantes entre pais e filhos porque as notas vão descendo, e mesmo quando os pais percebem que os filhos até se esforçam, continuam a insistir para eles estudarem mais porque as notas são muito importantes.

Eu tinha esperança que com a mudança de governo a coisa fosse corrigida mas já percebi que isso não vai acontecer. Recentemente foi-me explicado porquê.

O problema neste momento passa mais pela politiquice das próprias escolas e agrupamentos do que por culpa do governo. As escolas, que deviam defender os seus alunos, estão mais preocupadas com coisas parvas como o seu lugar no ranking e preferem falsificar os dados do sucesso dos alunos para ter bom aspecto do que levantar a voz em defesa de um ajuste realista dos programas.

Se admitem que os resultados são piores do que o esperado estão a admitir que os professores e os agrupamentos no geral não conseguiram cumprir o que devia ter sido ensinado. Não interessa que esse incumprimento seja culpa do programa estar inadequado à idade e ser demasiado extenso. A única coisa que interessa é que nas estatísticas, o número de alunos que transitaram de ano seja superior ao do ano anterior. Para ter a certeza que isso acontece, no início do ano é definida uma quota para o número de alunos que pode chumbar. Os outros passam à mesma e são integrados num sistema diferente, tipo “alunos com necessidades educativas especiais” e coisas do estilo, para justificar a aldrabice. Isto são ordens que vêm dos agrupamentos e que os professores, por mais que discordem, têm de cumprir. Não interessa se os alunos estão realmente a aprender qualquer coisa. Só interessam as aparências.

Assim sendo, o que acontece quando o ministério da educação recebe os dados vindos das escolas? Para eles parece que está tudo a correr bem, logo não é preciso ajustar nada nem mudar o programa.

Entretanto uma geração inteira de crianças está com a vida toda estragada. Não têm tempo livre, há uma pressão constante enorme, têm testes que não percebem para que servem mas que lhes causam ainda mais stress porque se dá uma importância enorme da escola – as chamadas provas de aferição.

No meio disto tudo alguém se esqueceu que estamos a falar de crianças a quem se está a exigir uma concentração e carga de trabalho quase equivalente ao que seria de esperar na faculdade. E enquanto se aldrabarem os números, não muda nada, até porque não estou a ver os pais a ir insistir para os professores chumbarem os filhos, muito pelo contrário, ficam super felizes.

E pelo meio não há de facto aprendizagem para muitos deles. Há professores a falar, alunos a ouvir, muitas vezes sem perceber, e nenhum conhecimento adquirido. Mas pelo menos a escola não desce no ranking.

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