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Ao fim de 3 semanas

Passaram 3 semanas desde que o Tiago nasceu. Estou muito cansada porque ele insiste em dormir mais de dia do que de noite mas acho que me estou finalmente a adaptar a isso. Basicamente foi preciso render-me à evidencia que não vou conseguir dormir na minha cama durante algum tempo. Quando tento ele começa novamente a ficar rabujento e tenho de me levantar outra vez. Por isso acabo por passar a noite no quarto dele ou na sala para o Pedro poder dormir pelo menos um bocadinho. Começo a achar que nem vale a pena tentar ir para a cama já que não dura muito.

De dia continuo a não conseguir dormir – ou porque há visitas, ou toca o telefone ou tenho que fazer qualquer coisa que não pode esperar.

É claro que já sabia que não ia dormir. Mas a realidade é sempre diferente. Alguns dias têm sido mais dificeis. Acho que é facil ter alguns momentos mais deprimidos quando se está tão cansada, mas acabam por passar. Farto-me de chorar mas não dura muito. Suponho que também seja por continuar com as hormonas todas descontroladas.
Hoje saí sozinha com o Tiago pela primeira vez. Era preciso pagar a garagem e depositar um cheque e não tinha outra hipotese. Felizmente o Pedro já foi comprar o ‘canguru’ porque sair com o carrinho nesta avenida cheia de degraus é impossivel. Estava a choviscar mas ele ia bem embrulhado e aquilo fecha quase completamente por isso não apanhou chuva.

A alimentação, que era algo tão complicado nos primeiros dias, agora corre lindamente. Umas vezes come mais outras não passa dos 5 minutos mas não me preocupo porque já dá para perceber quando tem fome e quando está bem. Afinal já recuperou o peso de nascença completamente dentro do prazo previsto, portanto está bem alimentado. É claro que graças à amamentação já perdi 11 dos 13 quilos que ganhei durante a gravidez e passo o tempo cheia de fome e de sede. Mas como alguns dias ando tão ocupada que até acabo por me esquecer de comer isso não me surpreende. Infelizmente essa diferença de peso não é tão significativa como gostaria porque acho que tenho mais gordura e menos massa moscular do que há 9 meses atrás. Mas ainda só passaram 3 semanas e pelo menos já consigo vestir alguns pares de calças normais. Há que ver as coisas pela positiva. Basicamente começo aos poucos a sentir-me eu novamente. Acho que durante a gravidez perdi um bocado a minha identidade porque estava tão ansiosa com o resultado e era tudo à volta do bebé. Agora, apesar de ter de tratar do Tiago 24 horas por dia e continuar a ter montes de restrições alimentares, etc, sinto que já retomei um bocado mais a minha rotina.

Acima de tudo noto já uma diferença enorme no Tiago em relação a 3 semanas atrás. Está obviamente maior e isso nota-se particularmente nas mãos. Ainda não comecei a fazer o album de fotos porque isso implica mais tempo e paciencia do que tenho agora, mas já comecei o livro que nos deram os meus sogros para notas sobre os primeiros cinco anos de vida. Aproveitei para fazer a impressão das mãos e dos pés antes que fiquem enormes. Vai ser giro ver aquilo daqui a uns anos.

De vez em quando ainda tenho flashbacks do hospital. Apesar de ter escrito um texto enorme sobre esses dias não cheguei a incluir algumas das coisas que me ficaram mais marcadas, como a bruta da enfermeira que achava que estava a ser engraçadinha e fez uma série de comentários algo inapropriados. O primeiro foi quando me queixei que o Tiago não queria mamar e disse que já não sabia o que lhe havia de fazer. A resposta dela foi ‘ah, atira-se já pela janela’. Acho que na altura nem liguei mas a minha mãe ficou um bocado escamada. Depois noutra noite embirrou porque o Pedro e outro pai ficaram para além do fim da hora de visita. Resolveu armar-se em nazi e impediu-os de entrar na hora de visita dos pais. Tiveram de ficar de castigo lá fora durante mais 15 minutos. Nada como enfermeiras com power trips.
No último dia perguntou-me se já me tinham dito o valor da análise do Tiago, por causa da ictericia, e quando eu disse que sim e que parecia ser um valor bastante alto e vamos lá ver se desce o suficiente, respondeu ‘ah, não pense que sai daqui hoje’ o que contribuiu bastante para a ansiedade do dia.

Depois foi a brasileira que veio ocupar a terceira cama do quarto. Na primeira noite em que esteve lá foi a noite em que o Tiago não se calava. Na manhã seguinte até me dei ao trabalho de pedir desculpa por não o conseguir calar ao que ela respondeu que só lhe interessava se conseguia dormir. Não voltou a falar comigo e também não fiquei com muita vontade de lhe dizer mais nada. Na noite seguinte foi a vez do bebé dela passar pelo mesmo e no dia seguinte já chorava porque não fazia ideia o que havia de fazer para o acalmar. Não consegui evitar um pequeno sorriso perverso. Devia achar que ia ser uma super mãe e o bebé dela era melhor que os outros quando no fundo era tão inexperiente com qualquer uma de nós.

A outra enfermeira que me irritiou foi durante essa mesma noite. Quando ao fim de duas horas de choro resolvi finalmente chamar alguém fiquei à espera e nada. Ao fim de uns 20 minutos aparece uma enfermeira para tratar de outras coisas – medir a tensão de uma das outras mães ou algo do estilo. Disse-lhe simplesmente ‘agradecia que chamasse alguém quando for possivel’. Acho que até fui bastante delicada mas a resposta dela, com uma voz altamente arrogante foi ‘esse alguém sou eu e estou a tratar de assuntos prioritários’ e virou-me as costas. Não é como se tivesse insultado alguém ou pedido para me prepararem um banho de espuma.
Acabou por aparecer outra enfermeira passado algum tempo – afinal já não era ela – que levou o Tiago para lhe fazerem uma massagem porque me pareceu que ele estava com cólicas. É algo que também nunca compreendi : porque é que o levam embora em vez de tentarem ensinar como é que se faz a massagem, por exemplo?
Pouco tempo depois ouvi do corredor ‘pois, isso das cólicas também serve de desculpa para muita coisa’, como se eu tivesse inventado o facto de ele estar obviamente com dores. Pelo que percebi depois, se o bebé não tiver a barriga dura eles não consideram cólicas e aparentemente é quase um crime usar o termo. A enfermeira voltou a dizer que ele devia era ter fome, algo que eu também já sabia. O problema é que por causa das dores de barriga ele recusava-se a mamar e só ia ficando cada vez mais irritado. Quando tento explicar isso ainda tenho de ouvir a teoria de que os bebés às vezes choram sem motivo. Foi a minha noite de Prison Break. Já estava quase a fazer a mala e pirar-me.
Por muito insignificantes que pareçam estes momentos acho que tenho de os escrever nem que seja para me poder esquecer depois. De outra forma continuam a flutuar na minha cabecinha e voltam à superficie ocasionalmente. Pode não parecer nada mas quando se está num ambiente estranho e barulhento, sozinha, cansada e sem privacidade, roçam a tortura psicologica. Os militares americanos podiam aprender algumas coisas com umas daquelas enfermeiras.

Mas pronto. Já acabou. Agora é comigo e acho que não tem corrido mal.

O meu maior problema neste momento é que tenho tendencia para focar a atenção nos problemas, nas coisas que precisam de ser resolvidas, em vez de olhar para o todo. É como olhar para a cara de uma pessoa e só ver a borbulha que tem no nariz. É uma mania dificil de contornar e arrisco-me a não ter memórias de mais nada a não ser as partes más ou complicadas. Tenho tentado ultrapassar isso mas são muitos anos a funcionar dessa forma. É por isso que sou tão organizada – sei sempre o que é preciso fazer, o que ainda está pendente. Mas um bebé não pode ser uma série de problemas a resolver. Acho que é por isso que tenho tirado tantas fotos – se não conseguir dar a volta à questão e apreciar os momentos mais calmos pelo monos posso depois olhar para as fotos e assegurar-me que estava lá. Mas não é bem o mesmo.

A terapia tem sido pegar no Tiago de vez em quando só porque sim. Não porque está a chorar ou porque precisa de mudar a fralda mas simplesmente para olhar para ele. Espero que com o tempo isso se torne normal e páre de ter que me lembrar de fazer essas coisas.

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8 Comments

  1. Olá mais uma vez! Estas primeiras semanas são sempre difíceis não obstante haver sempre esta ou aquela que se “gabam” de ter tido “bebés maravilha” que não choravam nem tinham cólicas e que ainda dormiam 6 horas de seguida…enfim. Quando nos queixamos ouvimos sempre coisas destas mas o contrário também acontece e é o mais normal: os bebés choram e choram muito. Até podem estar calmos nos primeiros dias mas depois “despertam” e começam com as cólicas, apercebem-se de que se lhes pegarmos se sentem mais acompanhados e confortáveis, etc. Acho muito bem que lhe pegues “só porque sim”porque não é precisa outra qualquer razão. Este tempo foge-nos tão depressa que urge agarrá-lo da melhor maneira que pudermos e soubermos. Bjs!

  2. Querida Dee:

    Antes de mais parabéns pelo nascimento do Tiago! Tens, realmente, um filho muito bonito e muito parecido contigo!
    Como te percebo… Nos primeiros tempos em que toda a gente pensa como é delicioso ter um recém-nascido em casa a maior parte das pessoas “que estão de fora” não se apercebe (ou esquece) que para quem está com eles 24 horas por dia tratar deles é como uma missão, ou um plano a cumprir: tentar, antes demais (especialmente para mães de primeira viagem como eu), perceber como funcionam, o que fazer quando chora de determinada maneira, dar de mamar, mudar a fralda, adormecer. É uma vigília constante, é muito trabalhoso e digo-te sinceramente, também tenho consciência de que poderia ter curtido mais o meu recém-nascido. Mas a ansiedade de fazer bem, a ignorância por vezes (até me habituar a saber porque é que chorava) levam a que não aproveitemos tão bem como deveríamos. Mas digo-te, a partir do momento em que os bebés começam a interagir mais tudo se torna mais giro, a partir das rotinas instituídas tudo se torna mais leve. Não acredites quando te dizem que não vais dormir nos próximos 2 anos. O Rodrigo vai fazer 2 anos no dia 14 e posso dizer-te que durmo noites inteiras desde que ele tinha 1 mês e meio.
    Isto não é um conselho, cada mãe encontrará as suas próprias rotinas, as suas próprias maneiras de resolver as pequenas questões que forem surgindo. E vais ver que vais começar a focar-te nas coisas maravilhosas que o Tiago tem para te dar.

    Quanto às enfermeiras? Todas umas V…. que não se devem lembrar da vulnerabilidade de uma mulher que acaba de dar à luz.

    Beijinhos e força e não faças como eu fiz: aproveita para dormir quando ele dormir, lixa-te para a casa e para o resto. Éo que mais me arrependo até agora.

    Beijinhos,
    Catarina.

  3. paula says:

    Olhe Dee tudo isso é normal,pois comigo foi igual. A minha filha só começou a dormir de noite só com 4 meses depois de introduzir a papa e o suplemento de leite,durante esse tempo todo era de noite. eu na sala com ela sobre o meu peito deitada ,ficando inclinada no sofá, só assim conseguia que se mantivesse calada,enquanto o meu marido dormia alguma coisa no quarto.Só que noite após noite durante os primeiros meses o nosso stress aparece e choramos ,temos um humor terrivel etc…
    Depois passou a ser uma noite o meu marido com ela sobre o peito de barriga para baixo ( penso que as batidelas do coração a acalmavam) e eu dormia alguma coisa no quarto ,e assim foi noite sim noite não para podermos ter alguma calmia, ele coitado já dormia no emprego (Principalmente nas reuniões).
    Tinha amigas que me diziam ” os meus filhos sempre dormiram toda a noite,nem acordavam para mamar,não choravam assim como eu dizia”. Eu então pensava algo de errado se passa com a minha filha pois se os outros eram tão sossegados.Balelas!!!!! todos os bebs que eu conheço que foram nascendo de casais amigos ,eram iguais a minha filha, portanto é assim não nada de errado muitas já não se lembram porque se calhar não earm elas que tomavam conta dos filhos mas sim as empregadas ou as avós e elas dormiam sossegadas. Quando comecei a trabalhar ia mais cansada do que durante toda a gravidez.
    Até agora do que tenho lido da sua aventura ,foi igual a minha só que a passei no hospital santa maria lisboa. Tudo se vai compondo não pense que é só consigo todas passamos por isso as que tomam conta dos filhos como nós. Vai correr bem até a proxima.

  4. Catarina says:

    Recomendo vivamente a leitura de “Baby Blues”, comics que nos acompanham na perfeição na aventura da maternidade/paternidade. É essencial começar pelo primeiro!
    Não descobri publicados em jornais online (só a homepage), mas os livros vendem-se na Bertrand e provavelmente na Fnac.
    Quanto ao sono, pode ser que tenhas sorte. Eu, quase dois anos depois, quando acordo com o despertador, agradeço aos céus por mais uma noite inteira a dormir… isso acontece em média 4 noites por semana e é um franco progresso!
    E pronto, a mudança de vida é grande, mas caindo em lugares comuns, é altamente recompensadora!
    Até um dia destes, pode ser que nos encontremos por esta cidade esburacada…

  5. célia says:

    Olá, gostei de ler o texto, revi-me em alguns aspectos.
    Numa época em que tanto se promove o conceito de “Hospital amigo do bebé” que tal promover o “Hospital amigo da mãe”?

  6. dee says:

    Olá Catarina 🙂
    Por acaso já conheço o Baby Blues há muitos anos. Acho que temos até ao nº 20 ou algo do estilo. Nós coleccionamos BD e andamos sempre à procura de coisas novas por isso vamos comprando o que aparece por ai para experimentar e essa série tem realmente piada. Acho que não é preciso ter crianças para gostar.
    Espero que esteaj tudo bem contigo.

  7. Dee, quando estive no hospital a minha pequena também teve cólicas mas para eles ela era uma bebé chorona como lhe chamaram varias vezes, até que entrei em desespero e a meio da noite chamei um enfermeiro (fiquei encantada como ele tratava dos bebés) e levaram-na para a tal sala para lhe fazerem as tais massagens e eu fui atrás, ainda hoje me dói o coração ao lembrar-me do que lhe fizeram. Fizeram-lhe as massagens com tanta força que pensei que lhe iam partir os ossinhos todos, mas resultou e ela nunca mais chorou com dores de barriga.
    Também passei muito com as enfermeiras, mas isso é em todo o lado. Na primeira noite uma obrigou-me a levantar-me da cama quando eu dizia que não conseguia, acabei desmaiar na casa de banho.

    Foi um tempo para esquecer e eu só estive lá dois dias, nem imagino como é que conseguistes aguentar 5 dias.

  8. Rui Gomes says:

    Viva!
    Parabéns pelo bebé Tiago

    Andava eu a navegar pela web quando vim parar a este site, li alguns posts e reparei que estão a começar a ter problemas com as cólicas do vosso bebé.

    Nós, eu e a minha mulher também passamos por esse fase muito dificil para nós e para a nossa bebé; começamos a dar-lhe o Aero Om, depois o Colimil e os resultados não eram satisfatórios, até que nos indicaram o Infacol, que não existe em Portugal só em Inglaterra (http://www.auravita.com/products/AURA/PHMX10020.asp) que até se vende em supermercados.

    Compramos no site acima mencionado um frasco para exprimentar e foi remédio santo, as cólicas quase que desapareceram.
    Eles demoram mais ou menos 3 dias uteis a enviar o Infacol; depois na segunda encomenda mandamos vir logo uns quantos para termos stock e não ficarmos desprevenidos.

    Adeus e boa sorte para o Tiago

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