Tiago

Tiaguices

Tenho um miúdo muito giro.

Acho que normalmente só escrevo quando é para me queixar – do cansaço, da falta de tempo, das birras – e não escrevo muito sobre as partes boas de ter um filho. Isto deve-se ao facto de precisar de desabafar quando as coisas ficam complicadas e quando está tudo bem não ter tanta necessidade de o expressar – basta senti-lo.

Mas não quero ler isto daqui a uns anos e ficar convencida que foi só dificuldades. É que os momentos bons são isso mesmo, pequenos momentos, às vezes duram um ou dois segundos, e depois acabam, mas quando são mesmo bons compensam um bocado tudo o resto. Não apagam nada da memória nem servem de consolo quando se está no limite da paciencia mas são um bocado como respirar novamente oxigénio depois de 2 minutos com a cabeça debaixo de água. Por vezes esquecemos que eles existem e há dias em que são muito raros mas esses momentos perfeitos são essenciais à nossa sobrevivencia – a minha certamente e a do Tiago pelo facto de estar dependente de mim.

Há então momentos bons: as gargalhadas que ele dá e que adorava que fossem mais frequentes, aquele momento em que ele começa finalmente a fazer uma coisa nova, seja gatinhar, por-se de pé, acertar com a colher na boca sem ter entornado a comida, empilhar os cubinhos, etc, quando consigo que ele colabore em algo como atirar a bola ou seguir-me, aquele sorriso malandro que ele faz antes de fugir de mim à espera que eu o persiga… Enfim, pequenas coisas.

Ultimamente acho divertidissimo ver que ele já descobriu o gozo da antecipação. Construo uma torre de copinhos e ele coloca as mãos a dois ou três centimetros da torre e fica nessa posição uns segundos com um sorriso fantástico e altamente malandreco antes de deitar aquilo tudo abaixo. Há alturas em que parece que ele até tem arrepios de pensar no que vai fazer. É fabuloso. E tamb´m acho imensa piada ao facto de ele fazer certas coisas para obter aplausos – sentar-se no banquinho, comer com a colher, enfiar as argolas no poste – se nos distraimos começa ele a bater palmas para nos lembrar da recompensa. É o máximo.

Por vezes olho para ele e fico espantada com a fofice do miúdo. Acho que é altamente egocentrico acharmos os nossos filhos lindos quando são parecidos connosco mas tenho a impressão que é daquelas coisas do instinto de sobrevivencia que não se podem contornar. Não consigo evitar – acho o miúdo muita giro. Mas não espero que mais ninguém concorde porque acho isso desde que ele nasceu e quando vejo as fotos dele recém nascido, roxo e engelhado já consigo ser mais objectiva e pensar ‘mas que raio é que eu estava a pensar? Ele era tão feioso como os outros recém nascidos todos!’. Só que na altura não era. Seja das hormonas ou outra coisa qualquer, a sensação indescritível de ter aquela criatura minúscula a abrir os olhos pela primeira vez e olhar para nós sobrepõe-se a tudo o resto e é o que nos impede de querer atirá-los pela janela quando não nos deixam dormir há duas semanas.

Mas acho-o muito mais giro agora do que quando era mais pequeno. Agora já tem expressões faciais e sabe o que quer, tem personalidade e um sorriso que derrete toda a gente que se cruza com ele. Definitivamente vai melhorando com a idade.

Acho que sempre imaginei a fase de bebé de colo seguida da fase em que eles já pintam e fazem jogos e nunca pensei que o intermédio fosse tão longo e doloroso, mas havemos de lá chegar. Não estou com grande vontade de aturar os terrible twos, porque se até aqui não tem sido fácil, nem imagino o que se segue, mas vamos avançando dia a dia até isso passar.

E um dia mais tarde ele vai deixar de precisar de mim e só espero que quando isso acontecer que eu tenha conseguido pelo menos ajudá-lo a tornar-se uma pessoa forte, confiante e com conhecimento que tem pessoas que o adoram mesmo quando se porta mal 🙂

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3 Comments

  1. 🙂

  2. Continuo a adorar ler o que escreves. A forma como o fazes espelha muitas vezes o que não consigo expressar objectivamente, por palavras, como tu fazes. É um dom que tens, creio.
    Quanto aos teus posts anteriores (sobre o teu filho), acho que és uma belíssima mãe, super criativa e paciente e que põe a sua relação com o filho como a maior prioridade da sua vida. É lindo.

    Obrigada. És uma inspiração.

  3. adorei… acho que vou sentir exactamente o mesmo que tu 🙂

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