Tiago

Ama’eo

Na segunda feira o Tiago voltou ao carrinho. Na hora de sair foi-se logo sentar e disse que não quando lhe perguntei se não preferia ir a pé. Consegue ir para a escola muito bem a pé mas o regresso é complicado porque está cansado e já não lhe apetece andar aquilo tudo.

Na quarta voltou a ir a pé, por escolha dele também. Já estavamos muito atrasados mas prefiro não discutir. Como esperado, quando ficou cansado de brincar no escorrega e deviamos voltar para casa, recusou-se. Eu comecei a afastar-me e a dizer adeus para ver se ele começava a seguir-me mas o colega dele, que também vai brincar para ali à mesma hora, agarrou-me na mão e começou a puxar-me para os cavalinhos de baloiço. O Tiago, ao ver-me afastar de mão dada com outro menino desatou a chorar, deu a mão ao avô do colega e começou a seguir-nos, sempre a berrar, lágrimas a escorrer-lhe pela cara.

Tentei acalmá-lo e aproveitei para lhe dizer que iamos para casa. Aí foi o colega dele que não gostou e queria que eu fosse brincar com ele. Oh well.

Como entretanto já se tinha acalmado, pelo caminho comprei um gelado ao Tiago. Ainda parámos para nos sentar num banquinho para ele comer grande parte do gelado e fomos até casa sem problemas. Agora vai estar à espera de gelado todos os dias mas não tem grande sorte.

Já em casa, o Tiago esteve a pintar, tal como no dia anterior, e já tenta usar o nome das cores para pedir as que quer. Ama’eo (amarelo) é a cor do momento. O Tiago adora pintar e misturar as cores e eu comecei a mostrar-lhe que pode tentar fazer desenhos figurativos – uma bola amarela para o sol e ele depois faz os raios, etc. Quando está bem disposto é muito giro fazer este tipo de actividades e ele até já colabora quando chega a parte de lavar as mãos.

Ontem, quando fui buscar o Tiago à escola tivemos mais uma birra monstruosa. Ele vinha do recreio todo feliz mas deixou o ursinho lá fora. Nem chegou a vir ter comigo – sentou-se no chão da sala a fazer beicinho e depois foi piorando o comportamento daí para  a frente. Não aceitou o ursinho quando o encontraram, não deixava que ninguém lhe pegasse, não me deixou sentá-lo no carrinho e acabou deitado no chão e berrar. Ao fim de um bocado, e depois de perceber que nesta situação não valia a pena esperar que a birra passasse porque ele tinha público, agarrei nele e levei-o embora. Já fora da escola sentei-o no carrinho (que implica mantê-lo no sítio com uma mão e apertar o cinto com a outra, tarefa nada simples) e viemos para casa porque num dia destes não há escorrega para ninguém.

Já em casa acabou por passar o resto da tarde bem. Não teve direito a TV mas foi montar a pista de carros e depois estivemos a brincar com plasticina e com um brinquedo que diz palavras (que o Tiago já repete – lua, bolo, hora, etc. Ontem até tentou dizer panda). Também começou a perceber que pode fazer bonecos com a plasticina em vez de ser só bolas. Estivemos a fazer uma coisa que começou por ser tipo boneco de neve, empilhando várias bolas de plasticina mas que depois ganhou orelhas de voelho, braços, pernas e uma cauda. O Tiago ia partindo o rolo de plasticina e ria-se quando eu colocava o bocado que ele me dava no boneco ‘olha, agora é um braço, agora uma perna’.

De manhã e à noite o Tiago começou a fazer xixi no bacio. De manhã é mais complicado mas à noite vai sem luta.

As nossas manhãs actualmente funcionam assim: vou buscar o Tiago à cama, levo-o ao colo para a sala e ele tenta ligar a TV. Digo-lhe para tirar as calças do pijama e a fralda e fazer xixi no bacio, ele diz que não. Lá acabo por despi-lo mas ele luta o tempo todo. Ameaço que não vê televisão se continuar assim e ele ignora-me. Digo-lhe que se não quer fazer xixi vamos então por a fralda nova e ele senta-se e faz. Fica muito orgulhoso, aponta mas já não tenta tanto ir mexer (hurray!) e deixa-me vestir-lhe a fralda nova.

Depois vamos lavar as mãos e vou preparar-lhe o pequeno almoço. Visto-me enquanto ele come e quando está na hora de sair o Tiago ainda tem a comida quase toda no prato e não está vestido. Pergunto se quer ajuda com a papa e ele diz que não. Espero mais um bocado até achar que já chega. Começo a levar o prato embora, ele grita, devolvo-lhe o prato e lá come mais um bocadinho.

Hoje dei-lhe torrada e leite por isso limitei-me a vesti-lo enquanto comia mas ele não gostou porque afastei a mesa com a comida. Chegou-se para a frente e começou a agarrar nos bocados de pão  – um numa mão, um na outra e estava a tentar meter o terceiro debaixo do braço. Ralhei com ele porque estava a encher a camisola de manteiga e daí para a frente a situação foi piorando. Não queria tirar a camisola, não queria vestir a outra e com os sapatos foi uma luta inimaginável. Quando estava vestido deixei-o curar a birra e fui arranjar-me para sair. Ele aproveitou para tirar um sapato. Como castigo tirei-lhe o resto do pão e ele atirou-se para o chão aos gritos.

Depois de muita berraria o Pedro foi calçar-lhe o sapato e levou com a mesma resistência que eu – berros e pontapés. Lá acabou por conseguir e depois deu-lhe mimos – que eu não consigo perceber se é uma boa ou má táctica nestas situações – e levou-o para o carrinho. Se fosse comigo ele teria começado a contorcer-se para eu não conseguir apertar o cinto mas com o paizinho a coisa vai.

Dei-lhe mais um bocado de pão, que costuma acalmá-lo durante o caminho mas não teve grande efeito. Só se acalmou quando chegámos à escola. Bebeu àgua e foi para o recreio sem grande luta mas percebi que queria colo quando lhe dei um beijinho.

O que me faz confusão nestas birras é que eu até compreenderia se ele fizesse isto porque quer que eu lhe pegue ao colo, mas se tento fazê-lo ele empurra-me e tenta soltar-se. Ou seja, não há nada que eu possa fazer para o confortar. Parece que o ir e vir da escola é que está a dar origem às cenas mais dramáticas e começo a pensar que mais vale daixá-lo em casa do que ter de passar por isto. Por outro lado, quando ele faz uma birra destas logo de manhã só consigo pensar ‘ainda bem que vai para a escola’. Eu sei que é cruel mas a paciencia tem limites.

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8 Comments

  1. Podes dizer que lhe dei uma palmada na mão para lhe conseguir calçar as sandálias, não é como se lhe tivesse posto os sapatos e depois feito uma grande festa.

  2. Lá em casa estamos da mesma maneira. Gritos para mudar a fralda, gritos para sentar na cadeira do carro, gritos porque quer ir a pé ou porque quer ir no carro. É uma fase tramada e tem de saber contrariar e não ficar de rastos quando se ouve um “não quero a mamã, quero o papá”, como o meu diz. Enfim, muita paciência já se sabe e uma enorme dose de disciplina e o conforto de saber que não estamos sozinhos nesta luta! hahaha

  3. Uma coisa que tem tido algum resultado com o gabriel é contar até três.
    Explico-lhe o que quero que faça, por exemplo: comer a papa, se ele continua a ignorar e olha para a tv, eu explico: se não comes a papa, não há tv, a fase seguinte é contar até três para desligar a tv. Às vezes come a papa já depois de ter ficado sem tv, outras começa a comer ao “dois”.
    Outras ainda aproveita a brincadeira, conta comigo até três e chegado ao três faz o que lhe pedi.
    E deixa estar que não és a única a pensar na bendita escola para os aturar :), quando o gabriel se põe com pontapés e estaladas, aí perco a paciência toda e até ando com ele de arrasto se for preciso, e tantas tantas vezes que o levo debaixo do braço com ele aos berros e a espernear. É preciso muita paciência. E espero bem que estas birras piores passem lá prós 3 anos 🙂

  4. Uma vez li no livro do Mário Cordeiro que os putos de manhã estão com os níveis de glicémia muito baixos devido a tantas horas sem comer.Eu pra acabar com as birras matinais levanto o puto da cama,ligo a tv pra ele ver os bonecos e dou-lhe logo o pequeno almoço.Vai comendo e vai “acordando” e depois já fica um bocado mais fácil.Claro que volta e meia há resistências mas o que tenho vindo a reparar e que me agrada mesmo muito é que de tanto insistir nas rotinas e nos castigos e etc,o gajito,agora com quase 3 anos,está a começar a ficar mais dócil e já percebe que com birra não ganha nada.Temos que ter paciência e temos que ser firmes,muito firmes…

  5. dee says:

    Eu costumava dar-lhe logo o pequeno almoço. Só comecei a mudar a fralda primeiro porque ele acorda com a fralda quase seca e se espero muito tempo já não vai ao bacio – faz na fralda. Como estamos em treino é importante ir criando a rotina.

    Quanto à TV ao pequeno almoço, ele distrai-se demasiado e não come por isso tento evitar quando posso.

    Isso do contar até três também faço mas o gajo é teimoso e até agora nunca funcionou. Eu aviso sempre antes de lhe tirar qualquer coisa, desligar a TV, seja o que for. Sei que ele compreende mas recusa-se a ceder.

  6. Lisete says:

    Obrigada pelas dicas. O meu também faz tudo o que está mencionado… mas outras vezes porta-se tão bem.
    O que mais me “irrita” é ouvir as avós que ficam com ele 1 vez por semana: “este menino é um amor.. não dá trabalho algum, é um doce” pois ele só avaria com os pais por perto. Mas aos poucos lá lhe vamos incutindo as rotinas.
    bjinhos e boas “birras” a todas (os)

  7. Gosto deste “clube dos dois anos”. 😀

    Gosto quase tanto como o clube das pessoas que afirmam a pés juntos que os filhos não fazem birras.

  8. Kella says:

    É realmente uma fase tramada…e acho que estou a chegar lá perto.
    Tenho tido sorte, muita sorte mesmo…o meu primeiro nunca me fez uma birra!! o segundo fez-me apenas uma birra no supermercado que deve ter equivalido a umas cinquenta mas foi a primeira e última pois levei-o para o corredor dos dentífricos onde não estava uma alminha sequer e dei-lhe umas boas palmadas ali mesmo, enquanto se arrasta no chão! Agora a terceira acho que não me vai dar tréguas…as birras para dormir e comer já começaram…e só tem 18meses.
    Haja paciência e muita determinação…não é fácil.
    Bjs

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